setembro 19, 2006

Revolução Farroupilha - Parte 3

Olá pessoal,
Hoje encerro esta série em comemoração a Semana Farroupilha lembrando que a grande data dos gaúchos é amanhã, dia 20 de setembro, e desejando a todos nós gaúchos um belo dia de comemorações.
Viva o 20 de setembro!!!
Insurreição ou Revolução?

A insurreição que os farrapos preferiam chamar de revolução durou dez anos. Fazer revolução significava avançar na História, mesmo para os segmentos dominantes do início do século XIX. Aliás, a revolução implicava o uso da força, legitimando o movimento. Os exemplos das elites dominantes da América do Norte, França e Inglaterra estimulavam processos revolucionários com objetivos de destruir o arcaico, o antigo, o ultrapassado. Só que os farroupilhas não questionaram a escravidão em seu sistema produtivo nem ao menos tiveram condições de ensaiar planos de liberdade e crescimento econômico. Identificaram-se mais com o conflito centro versus periferia. Por isso, é incorreto chamar o movimento de revolução. Foi uma guerra civil entre segmentos sociais dominantes.

Além disso, a escravidão era a "doença" que o paciente não aceitava ter. Preferia dirigir suas críticas à falta de protecionismo alfandegário. Esquecia-se ou não queria entender que a estrutura produtiva da charqueada rio-grandense retraía a capacidade de competir com os similares platinos. Este sim era o principal problema da pecuária rio-grandense, que só teve espaço no mercado enquanto os concorrentes platinos estavam envolvidos em guerras contra o domínio espanhol ou na disputa pelo controle do Estado Nacional. Foi sintomático: de 1831 em diante, os platinos entraram em período de relativa paz, voltaram a criar gado e produzir charque sem os inconvenientes das guerras. Com isso, o charque rio-grandense entrou em colapso. Em 1835 eclodia o movimento farroupilha.

Resultados do Movimento

Por dez anos, a guerra civil prejudicou o setor pecuarista.

As perdas foram muito maiores do que os lucros políticos e econômicos do movimento. Os pecuaristas saíram mais endividados junto aos comerciantes e banqueiros. Propriedades rurais, gado e escravos foram perdidos e tornou-se muito difícil repô-los posteriormente.

A paz honrosa de Poncho Verde, em 1845, acomodou as crescentes dificuldades dos farrapos, pois não interessava ao governo monárquico reprimir uma elite econômica. Aos oficiais do Exército farroupilha foram oferecidas possibilidades de se incorporarem aos quadros do Exército nacional. Líderes presos foram libertados e a anistia foi geral e imediata.

Antes e depois da Guerra dos Farrapos, os rio-grandenses lutaram contra os platinos, defendendo militarmente os interesses da coroa portuguesa e, a partir de 7 de setembro de 1822, os da corte brasileira. Ou seja, interessava ao governo do Rio de Janeiro assinar o acordo de Poncho Verde porque a política externa brasileira ainda necessitaria dos serviços militares (sempre disponíveis) da Guarda Nacional formada por estancieiros e peões rio-grandenses.

Quanto à política tarifária, medidas sem expressividade e pouco duradouras tentaram transparecer um melhor tratamento dado ao produto nacional. A estrutura produtiva ultrapassada (baseada na escravidão) não foi alvo de preocupações.

A sensação que existe hoje, passado um século e meio, é a de que as motivações daquele movimento não foram superadas. Por um lado, o Rio Grande do Sul continua em situação de mando político dependente, com uma economia pouco beneficiada no processo de acumulação capitalista que se reproduz no Brasil. Por outro, o Rio Grande do Sul não consegue "enxergar o próprio umbigo" e compreender que suas dificuldades resultam da forma como tem sido realiada sua inserção como sócio menor no sistema capitalista brasileiro. Expressando-se de forma figurativa, o Rio Grande do Sul continua produzindo e vendendo charque, subsidiando (perifericamente) o funcionamento do mercado exportador brasileiro e sem cacife no processo político-decisório nacional.
Nessas datas comemorativas além da festa também é bom parar um pouco e pensar sobre o assunto, o que aconteceu, como estão as coisas hoje. Com esses posts tentei fazer um pouco isso, relembrar a história e reforçar meu orgulho de ser gaúcha. Sei que não se vive de fatos históricos - até porque a história se faz a cada dia e por cada um de nós - e há muito o que se fazer para melhorar vários aspectos da vida - não apenas aqui no Rio Grande do Sul, mas no Brasil - mas é admirável a força do povo brasileiro. Por isso tenho a sensação de que esteja onde eu estiver serei sempre brasileira, serei sempre gaúcha.
Para quem se interessou pela cultura gaúcha faço o convite para que venham nos visitar, conhecer as nossas belas paisagens na serra, na campanha, na capital. Também podem conhecer pela literatura gaúcha (O Tempo e O Vento, de Érico Veríssimo é um clássico), cinema (Anahy De Las Misiones, Netto Perde sua Alma, Lua de Outubro, Concerto Campestre), televisão (A Casa das Sete Mulheres) e internet (seguem algumas sugestões de site):
Para concluir lhes deixo nossa bandeira e nosso hino. Até o próximo post!
Hino Riograndense
Oficializado pelo Decreto 5.213, de 5.1.1966
Letra: Francisco Pinto da Fontoura
Música: Comendador Maestro Joaquim José de Mendanha
Harmonização: Antônio Corte Real
Como a aurora precursora
do farol da divindade,
foi o Vinte de Setembro
o precursor da liberdade.

Estribilho:
Mostremos valor, constância,
nesta ímpia e injusta guerra,
sirvam nossas façanhas
de modelo a toda terra.

Mas não basta pra ser livre
ser forte, aguerrido e bravo,
povo que não tem virtude
acaba por ser escravo.

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Um comentário:

Jôka P. disse...

Denise, parabéns pelo importante valor cultural de seu blog e obrigado pelo carinho da mensagem que deixou lá em Copacabana.
bj,
Jôka P.